sábado, 29 de maio de 2010

De um alinhavar

Ele dizia sentir medo dos escritos dela. Dizia que as palavras que ela escrevia se alinhavavam, sem que ele conseguisse identificar os pontos feitos pelas linhas. Angustiava-se. Dizia ele: - Podes estar dizendo nada e tudo, a um só tempo, a um só alinhavar. E sentia medo.
Ela lhe afagava em seus braços e pedia-lhe que visse as cores, que não buscasse por pontos.
Nesse emaranhado de palavras-linhas ela se permitia, se perdia, se pertencia. Confundia ela aos olhos alheios, com as mais vivas cores. Mas sabia abrandar-lhes com seus tons pastéis.
Mas era nunca - nunca era - um algo só. Em idas e vindas, voltas e revoltas, mudavam-se as cores a cada piscar de olhos de quem fosse o olhar. Mudavam também a cada piscar de seus próprios olhos.
Não se sabia onde começava a trama, onde terminava. Terminava? Talvez não.
Acreditava ela que o gosto de vida não jazia na perfeição de um ponto final esmerado, mas no movimento do alinhavar.
E talvez fosse esse o medo que ele experimentava. Medo de encontrar nas linhas dela o ponto que ele tanto esquadrinhava identificar.
Mas ele estava em tudo e em nada nas linhas dela. Dependia do piscar dos olhos.
E, não podendo alinhavá-lo em suas linhas sem causar-lhe medo, emaranhava-se ela nos braços dele, com qualquer cor que pudesse ver o piscar. E era essa a melhor das tramas de seu alinhavar.

Um comentário:

  1. ah, que lindo... alinhavou com música ao fundo, sem ponto, só um monte de letras brilhando na tela. e é tanta cor, tanta...

    Virei fã.

    Beijo

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