domingo, 16 de maio de 2010

Do domingo e seu vazio.

Ela nunca gostara dos domingos. Certa vez, quando criança, domingo tinha sido aquele dia que precedeu seu primeiro dia na escola. Ela sentia medo quando ouvia a família dizer: 'Amanhã você começa na escola'. Mas o que era escola? Ela não sabia. Soube, porém no outro dia, que escola queria dizer estar cercada por um monte de outras crianças desconhecidas, ter de ficar sentada por muito tempo, obedecer a uma estranha, ter de pedir para ir ao banheiro. E o pior, escola queria dizer estar longe da mãe. Queria dizer não ter ninguém conhecido por perto. Então, escola queria dizer solidão na multidão. Desde então ela passou a não gostar dos domingos. Domingo. Esse dia vazio que não é, senão, a véspera de algo a acontecer. E de quando criança, aquele domingo não fora véspera de algo bom.
E mesmo que haja um bom filme.
Mesmo que tenha chocolate e boa música.
Mesmo em companhia de um bom livro.
Mesmo com aquela brisa fria de fim de tarde que ela ama sentir.
Ainda assim seus domingos são um vazio, véspera de um algo a acontecer.

Um comentário:

  1. Até que, num domingo,
    Quando pensava nas coisas boas
    Que no dia seguinte viram pó,
    Encontrou uma pessoa, uma pessoa só,
    Que não era multidão, mas um ser só.
    Não o conhecia, mas o conheceu,
    E com ele não dividiu merenda,
    Mas repartiu um pão-de-ló.
    Uma pessoa que nunca mais a fez,
    Numa segunda, sentir-se só,
    Que num domingo lhe tirou da garganta
    O pavor do dia seguinte, um nó.

    Então se lembrou daquela menina
    Que ficava afita nos domingos

    E sentiu dó.

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