domingo, 13 de junho de 2010

Dos 12 de junho.

Nunca lhe agradara muito o dia dos namorados. Antes, sabia bem o porquê. O 12 de junho era aquele dia em que se via as meninas do colégio a receberem flores de seus namorados. Era dia chato em que o rádio tocava apenas músicas melosas, e nada além disso. Era aquele dia de experimentar sensação de saudade do que nunca havia vivido.
Ela se recordara daquele 12 de junho em que a professora de português escolhera como tema da aula o amor e o enamoramento. Mas não falara de casais felizes, nem de flores, nem de músicas melosas."Não são apenas as mulheres que morrem de amor" - disse. Contou então de um rapaz que, enamorado por uma moça que dizia não amá-lo, decidiu suicidar-se. E o tal morrer-de-amor-masculino ocorrera justamente num 12 de junho.
Ao final da aula, ela desceu as escadas e foi surpreendida por um moço do seu grupo de amigos. Pediu a ela que conversassem a sós. Sentados no banco do pátio da escola, ele lhe disse de sua paixão por ela, contida até então. As mãos do moço tremiam que só. Os lábios também. Fez o pedido de namoro. Ela permaneceu em silêncio. Sentia um palpitar no peito. Ele agora lhe dizia o quão angustiantes se faziam seus dias a pensar nela sem de fato tê-la. Aumentou o palpitar. Ele lhe disse que já não sabia ver sentido na vida. Pronto, palpitação em demasia. Ela recordara imediatamente do caso de suicídio que a professora contara na aula. Temeu ser responsável pelo suicídio de alguém. Aceitou o pedido de namoro.
E foi assim que, num 12 de junho, ela ganhara seu primeiro namoradinho. Por medo de que ele se suicidasse, óbvio. Mas, ganhara. Duas semanas depois, ele lhe disse ao pé do ouvido que a amava. Pronto, eis que surge a palpitação. Sentiu-se demasiadamente assustada. Como poderia amá-la em duas semanas? Sua mãe lhe dissera que amor se constrói com tempo e, se um rapaz fala de amor em pouco tempo, é mentira. E se é mentira, não há amor. Se não há amor, não há razão de suicídio. Podia então terminar o namoro com o moço. E assim fez.
Tempos mais tarde, eis que outro 12 de junho lhe prega peça. Seu primeiro namorado de fato (aquele a quem se apresenta à família), decide terminar o namoro sem avisá-la. Some. Talvez este lhe tenha sido o mais traumático de seus 12 de junho. E o último.
Os 12 de junho seguintes, passara acompanhada, cercada de carinho, presentes e palavras belas. E, por que seguia a desgostar deste dia? Afinal, já não havia mais flores alheias, saudade do não-vivido e nem suicídio.
Hoje, após tantos e tantos 12 de junho, acredita ela que esse dia não traz nada de especial em si mesmo. Dá-se conta de que passa os 12 de junho a procurar por algo diferente, singular ao dia. Daí vem sua angústia, seu não-gostar. Não encontra. E, por que?
Há quem diga que ela tenha dia dos namorados em quaisquer dias. Em todos do ano, talvez. E que por isso, o 12 de junho seja redundante.

2 comentários:

  1. são tantos sentimentos, tantas emoções, q o viver se torna todo recheado de infinitudes. 12 de junho é dia dos encantos e desencantos dos amores, mas qual dia não é?

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  2. Eu, como ela, não gosto muito do 12 de junho, nem de datas comemorativas em geral. Acho que vem dessa redundância mesmo. Pra que marcar um dia da sua vida para amar, dedicar, presentear se você pode - e deve! - fazer isso todos os dias?

    Um beijo

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