sábado, 26 de novembro de 2011

Num piscar de olhos.


E se eu não mais fechar os olhos, Maria, é porque temo.
Talvez, porque tema um tanto mais quando os for abrir novamente. De olhos fechados, calaram-se os fantasmas e dissolveram-se as dores do mundo
e de mim
e os temores e tremores de minhas mãos.

As cores que vi com os olhos fechados, Maria, eram um bom tanto mais vivas do que o que agora posso enxergar.
Sim, Maria, havia cores.
E havia um tom manso na voz e uma calmaria e suavidade de agires
e uma melodia com as palavras e uma vontade de tudo sem pressa de nada.
E não havia fantasmas.
E não havia temor.

E então eu me pergunto, Maria: houve mesmo esse mundo-meu de detrás das pálpebras?
Ouve, Maria!
Se quando abri os olhos já não existia mais nada; se de olhos abertos é esse cinza-fantasma que (des)colore tudo agora, Maria...
É que quando abri os olhos, só restou cinza.

E é tão difícil caminhar sobre cinzas, Maria.


Nenhum comentário:

Postar um comentário