Ele parecia a ela uma dessas almas livres. Dessas que dançam pela vida em quaisquer melodias.
Pediu-lhe que tirasse os sapatos. Jogou-os no canto esquerdo da sala, a se encobrirem pela cortina. Fez com que sentisse o chão. Soprou-lhe vida que fazia-lhe flutuar. Fez com que seus pés sentissem os cacos. Fez com que sangrasse.
De sua boca saiam livres tantas palavras. Tantas livres. Tantas soltas. Levava a sério o viver e pedia a ela que não levasse tão a sério a vida. Fez-se contraditório. Falava de nós. Dos nós, tantos.
E ela se lançou à vida. De asas abertas. De pés descalços. Não mais apenas o flutuar, mas o vôo. Não mais apenas o caminhar desnudo, mas a dança. E já não precisava que lhe tirassem os sapatos e os lançasse a cortinas quaisquer.
E ele?
Tão preso estava em sua regra de viver, que vivia a(à) regra e deixava escapar a infinitude dos viveres.
Mas, seguiram com seus (des)encantos.
Enquanto ele divagava sobre os nós, ela, devagar, deslizava os olhos nas sombras que o lustre desenhava pelo quarto. E era belo.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
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Sabe que eu pensei sobre o paradoxo de "ser preso a uma condição livre" ainda ontem?!
ResponderExcluirE esse trecho toca de forma intensamente poética o meu pensar racional de ontem:
"Tão preso estava em sua regra de viver, que vivia a(à) regra e deixava escapar a infinitude dos viveres.".
Belo texto, gostei muito!
Um bjo,
Talita
História da minha alma
"Enquanto ele divagava sobre os nós, ela, devagar, deslizava os olhos nas sombras que o lustre desenhava pelo quarto. E era belo. "
ResponderExcluirConheço essa história. rs
Lindíssimo, Mary!
Beijoca