sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Da companhia minha.


Amedronta-me esse borbulhar de palavras que me aflige o peito em noites frias e sós. Palavras egoístas que me fazem sozinha por opção de estarem em companhia minha. Companhia suficiente que pulse, e solidão necessária para deixá-las também pulsar.
Misturam-se, dançam, entrelaçam-se, remexem-se. Doem, numa busca urgente por sentido. Vigoram-se em vias de transpor as bordas do corpo. Dilaceram a carne, sangram a pele. Alimentam-se de sentires intensos, mergulhados no que,  de tão real, não se permite inscrever em sentido algum.
Pergunto-me de que servem tantas palavras soltas, pulsando urgentes por nomear. Angustio-me por não obter respostas. Angustio-me por não saber soprá-las livres.
Sento-me então diante de companhia minha, livre teço tramas a costurar palavra noutra. Sem razão. Faço colcha de retalhos com versos afáveis que forrem o chão frio das noites sem sentido.
Pois, que seja o sangue a tinta e o corpo papel onde se inscreva os sentires carregados de palavras não ditas. Faço entregue ao corpo o sentido que a mente não sabe dar.

4 comentários:

  1. palavras que são companhias nossas, não é mesmo?

    achei maravilhoso isto! este escrito, este pensar.

    bom voltar aqui.

    beijos.

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  2. "Pergunto-me de que servem tantas palavras soltas, pulsando urgentes por nomear. Angustio-me por não obter respostas."

    A resposta é o que leio. A aflição tem resultado que se multiplica nos olhos dispostos de quem busca sentido até onde não parece existir.

    Que essa efervescência desemboque sempre linda e urgente assim, Mary!

    Beijo, beijo!

    Moni

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  3. Esse seu texto dói como a solidão que ele escancara. Dói a dor de escrever, que é dor de parto. Porisso vou segui-la.
    E, se puder, visite-me em http://pretextoselr.blogspot.com/
    Abraço.

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  4. Que texto maravilho, moça! Vigoroso e, também, belamente melancólico. Tece as palavras com maestria; com que prazer li este texto e com que alegria serei teu leitor, querida.

    Um abraço.

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