sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Do brinde à falta.


Brindemos com palavras que não testemunham senão, nossa incompletude. Denunciemos nossa falta soprando versos ao mundo.
Acaso desejas o que já tens? Acaso borda poemas do que não te afeta?
Faltosos que somos, tecemos linhas que tentem remendar os furos dos sentidos.
Poesia é desejo, entrelinha é objeto. Foge, escapa.
Silêncio faz caber todos os (im)possíveis, presentificados pela falta da voz que fala.
E a invenção de um mundo inteiro cabe num piscar de cílios.
É a falta que presentifica a coisa
e a traz para tão-dentro de si.
Consegues suportar a tão forte presença do que te falta?

Talvez seja a falta um constante quase-transbordar-se de si mesmo. 



Façamos então o brinde. E, para que seja completo, o façamos em silêncio e de taças vazias? 
- Não, que venha a falta encher as taças e tocar a música. Um brinde à incompletude.

4 comentários:

  1. adorei!

    aprendo muito com esse refletir-junto que você nos proporciona!

    e brindo contigo,
    partilhando esses dois textos:
    (não sei se você já leu...)

    Dos quereres: http://historiadaminhaalma.blogspot.com/2010/01/dos-quereres.html

    e

    Da poesia redentora: http://mariaclara-simplesmentepoesia.blogspot.com/2010/02/da-poesia-redentora.html

    um beijo, imenso!

    Talita
    História da minha alma

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  2. É isso mesmo. Bem no olho do furacão.

    A mesma falta que destroça remonta, constrói, edifica. Mesmo que seja em poesia. E a poesia fica.

    Lindo, Mary, lindo demais!

    Beijo, beijo!

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  3. Beber palavras
    sorver sentidos
    fotografar pensamentos
    estranhamente belo
    decididamente incomum.

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  4. Um brinde!
    A incompletude é o grande motor da ação humana. Mesmo quando parece tão completa quanto em tuas palavras.
    Abraços!

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