segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Do sonhar.


Era outro daqueles enredos (in)desejados: fazia legitimar mais uma de tantas perdas. Tentativa infundada de (não) ver o acontecer.
E acontecia? Coisa de quem se submete ao constante (des)confiar. Ensaio frustrado de buscar chãos outros para pousar seus pés. Coisa de quem já não mais sabe flutuar.
Tal vez fora ela demasiado urgente. Talvez. Sentira o real pulsar no corpo, sem palavras. Infinitude de não-ditos que pediam o fechar dos olhos. Mas, de olhos fechados, mergulhara em conto cruel. É que quando o desejo se põe em ato, o sonhar ocupa-se de enredos outros. "E você quer o que deseja?"
E acordara. Debatia-se em seu mar de lençóis que nada mais eram do que seu enrolar de afetos. E a memória é traiçoeira; faz acordar sonho em fantasias que não se fazem calar. Era a forma que ela encontrara  para defender alma e corpo da urgência inquietante trazida no grito do real.
Engana-se quem pensa que o abrir dos olhos finda o que se constrói por detrás das pálpebras. Sonho é terra de possíveis.



"Existe aí (nos sonhos) uma concorrência, uma superposição de símbolos, tão complexa quanto o é uma frase poética que vale ao mesmo tempo por seu tom, sua estrutura, seus trocadilhos, seus ritmos, sua sonoridade."
(Jacques Lacan)

Um comentário:

  1. daí que eu fiquei com "medo" enquanto fui lendo.
    medo? sim.
    : mais uma vez, você me adivinhou de uma forma "assustadora". É a tradução de uma vivência "fresca" que tenho tido...

    E, de fato:

    "Engana-se quem pensa que o abrir dos olhos finda o que se constrói por detrás das pálpebras."

    Um beijo,

    Talita
    História da minha alma

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