domingo, 6 de março de 2011

In-verdade, digo.

    O que temos, de fato, vivido? Se existe aquilo a que chamam verdade, ouso dizer que temos vivido mentiras; mais que isso, temos construído inverdades. Se o real é tão insuportável que nos faz tocar o mundo e a vida por meio da fantasia (ou do delírio), quem ousa aqui dizer que sabe o que é real?

    Os monstros e príncipes, e bruxas e fadas que habitam os diversos imaginários por aí, podem ter rostos e nomes diferentes para cada um de nós, mas, ainda assim são monstros e príncipes e bruxas e fadas e a história inteira que construímos para eles (ou, com eles).  Esse simples detalhe revela algo maravilhoso (e de direito): ninguém é dono da fantasia de ninguém.

    Portanto, respeitemos nossos temores frente aos diferentes monstros. Amemos e odiemos intensamente nossos príncipes. Culpemos nossas bruxas e demos graças à nossas fadas, não importando nome e rosto que tenham para mim e para você.

    Que sejamos egoístas a ponto de achar que sabemos qual é a melhor verdade para um sujeito, tudo bem. Mas, que isso não nos permita impor as realidades que produzimos. A vida é feita de possíveis. Lembre-se que o teu narcisismo, que te leva a venerar teu rosto e teus personagens, não lhe dá o direito de (des)identificar os meus.

    Não existe realidade, real-dado, o que existe é o ponto divergente entre a sua fantasia e a minha. Respeitemos o limite.

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